Dia 7. A Prática Diária

Passamos a vida à caça da Vida profunda, ou a ser por ela caçados. Parece inevitável que o derradeiro embate se dê mais tarde ou mais cedo, não parece? É válido perguntar se vale a pena tentar precipitar esse encontro, se é de facto mais precipitação que convite. Pessoalmente, prefiro pensar na adopção de uma prática diária como uma forma de endereçar esse convite ao Awen, a todos os seres, ao mundo inteiro, para que, im-portados vezes sem conta, me passem a importar deveras. Para que eu transforme a caça numa dança em que ambas as partes se seduzem. Para que eu entenda a Grande Canção pelo diapasão da empatia.

Em concreto, a maioria das pessoas que decidem trilhar o Caminho costumam partilhar uma série de objectivos em comum: desenvolver a atenção plena; estreitar os laços com os seres dos diversos Mundos, seja como for que se entenda a sua existência; treinar hábitos de vida mais éticos e ecológicos; aprender mais sobre a mitologia e a história dos povos antigos; desafiar os limites da consciência e do julgamento; crescer enfim no amor.

Mas nem sempre essa prática se concretiza com 20 minutos de meditação diária, ofertas de velas, água e incenso nos altares domésticos ou leituras prolongadas de grandes tomos académicos. Pela minha própria experiência, penso que há períodos em que a caça nos leva a ter que deixar de parte todo esse frenesi e regressar à estaca zero, a coisas mais… Terrenas. 

Primeiro que tudo, sê um bom animal.

Por vezes, pratico druidaria quando me permito experimentar os prazeres mais elementares, sem julgamentos pré-condicionados. Noutras ocasiões, quando expando os meus horizontes para compreender melhor os sentimentos, intenções e culturas de outros seres humanos. Ou mesmo quando me sinto interpelado a usar do privilégio da minha voz para defender quem raramente é escutado. Pratico druidaria quando exerço a minha criatividade, quando contemplo uma paisagem que me recorda que a Vida é indomável, quando faço o exercício de olhar o mundo de novo, como se fosse a primeira vez. Por vezes a minha druidaria é apenas um estado mais ou menos constante de disposição para o novo e de reverência para com os demais seres que comigo coabitam a casa do Mundo.

Outras vezes ainda, quando chega o cansaço, limito-me a repetir meia-dúzia de linhas, como numa ladainha, ou como um voto que se fortalece apesar de todas as resistências:

Eu estou no mundo
e o mundo está em mim,
E o Espírito que está em mim
é o Espírito que anima o mundo.
Por olhos, mãos e boca se cumpra a Vontade,
e a minha vontade é de Vos conhecer e honrar;
ó deuses e espíritos

do meu caminho e deste lugar,
escutai-me
!
Vós chamastes-me pelo meu nome;
eu Vos respondo com a minha própria vida.
Pois eis que sigo a voz do Silêncio
para trilhar a via dos Magos.
Que os meus olhos Vos procurem e encontrem
em cada traço da Natureza;
que as minhas mãos sejam leais
para comigo, com os meus e convosco
e com todos pratiquem a bondade;
e que a minha boca não se canse
de contar as Vossas histórias
nem de cantar os Vossos louvores.
Para Vossa honra,
para o meu bem
e para o bem de todos os seres.