O que é a Roda do Ano?

A Roda do Ano é um conceito importante dentro da espiritualidade neopagã, representando o ciclo sazonal da natureza e os rituais associados a cada fase.

A ideia começou a fermentar no ocultismo ocidental graças às obras (hoje já bastante datadas) de autores como James George Frazer e Margaret Murray.

A Roda como hoje a conhecemos foi desenhada em meados do século XX por Gerald Gardner, fundador da Wicca, e Ross Nichols, fundador da Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas.

A Roda do Ano pretende refletir cada etapa do ciclo agrícola, conforme este se expressa no clima temperado do atlântico europeu.

As comunidades pagãs entendem este ciclo anual de formas distintas. Quer através de mitologias modernas, como a relação entre o Deus e a Deusa wiccanos ou as figuras do Rei Carvalho e do Rei Azevinho, quer atendo-se aos costumes específicos de cada festividade nas culturas populares onde se originam, quer através de narrativas esotéricas que fundem saberes como o hermetismo, a astrologia, etc.

A Roda do Ano é composta por oito festividades. Estas têm nomes diferentes entre as várias comunidades, mas por norma incluem:

  • os fenómenos astronómicos do Solstício de Inverno, Equinócio de Primavera, Solstício de Verão e Equinócio de Outono;

  • intercalados com estes, as quatro festividades gaélicas do Imbolc, Bealtaine, Lughnasadh e Samhain, que no entender da sua cultura de origem abriam as estações.

No druidismo galês, os solstícios e equinócios recebem os nomes Alban Arthan (Inverno), Alban Eilir (Primavera), Alban Hefin (Verão) e Alban Elfed (Outono).

Estes nomes foram introduzidos por lolo Morganwg, figura-chave no revivalismo druídico. Na língua galesa, um “Alban” é um quadrante, um dos trimestres do ano.

Outros ramos druídicos preferem designar os solstícios e equinócios em irlandês, em gaulês reconstruído ou recorrendo a termos do chamado Calendário de Coligny.

Em Portugal, além dos casos óbvios do Natal ou da Páscoa, podemos observar costumes populares que coincidem de uma forma ou de outra com os momentos altos da Roda do Ano, como as celebrações dos Maios, os santos populares ou as festas e romarias de Agosto.

No hemisfério sul, há quem prefira inverter as festividades da roda do ano de maneira a que coincidam com o que se observa no mundo natural. Outres praticantes adaptam a Roda aos solstícios e equinócios locais, mas mantêm as datas originais das festividades gaélicas. Outres ainda seguem a Roda do Ano tal e qual como no hemisfério norte.

Nem todas as tradições druídicas utilizam a Roda do Ano, dado que esta tem apenas meio século de existência e o revivalismo druídico conta com cerca de 300 anos de história.

Alguns grupos druídicos mais antigos, possivelmente pelas suas raízes maçónicas, celebram apenas os equinócios e solstícios.

Outras tradições, desde o advento do reconstrucionismo celta, preferem modificar ou mesmo descartar a Roda como conceito, seguindo as pistas da arqueologia ou dos costumes que ainda hoje se observam no contínuo cultural celta.

A Roda do Ano convida-nos a refletir sobre a interdependência entre os seres humanos e a terra.

Seja qual for a nossa rotina de rituais preferida, o importante é que reservemos momentos para recuperarmos a consciência dos ciclos de criação, crescimento e descanso, “lá fora” como “cá dentro” do nosso ser.

No fundo, uma prática que aspira a ser cíclica e não calendarizada. Uma celebração da vida e do espírito que resiste ao ramerrame do capitalismo e do culto à produtividade.

Subscreve a newsletter

Assina para receberes cartas electrónicas ocasionais com reflexões sazonais, diretamente aqui do Bosque.