O Canto de Amergin

A última de todas as migrações relatadas no Livro das Invasões da Irlanda é a dos Milesianos — que, oriundos de partes longínquas como o Egipto ou a Cítia (onde hoje fica o Irão), se terão estabelecido na Península Ibérica e então partido para a Irlanda.

Amergin era o druida-mor, o Ollamh entre os Milesianos. Diante dos ataques dos Tuatha Dé Danann, que então controlavam a ilha, Amergin socorreu-se das suas melhores armas: a sua arte e a sua gnose.

Amergin não invoca apenas as forças dos reinos do ar, da terra e do mar. Ele identifica-se com elas. Amergin não é apenas alguém experiente nas artes. Ele torna-se a própria essência da Arte.

Amergin ultrapassa as barreiras da aparência e entra em plena sintonia com as forças tanto da natureza como da cultura. Entra em contacto com o próprio Ser que antecede toda a criação.

Depois de ter prometido às deusas da soberania do solo irlandês que daria à ilha o seu nome, Amergin obteve enfim a vitória para os Milesianos.

Os Tuatha Dé, a tribo dos deuses, aceitam partilhar a ilha com os humanos, e refugiam-se na paisagem irlandesa — invisíveis, mas sempre presentes.

Que força é esta que anima o canto de Amergin, e como podemos encontrá-la aqui e agora?

Sou o vento no mar
Sou onda que se agita
Sou a voz do oceano
Sou um veado de sete galhadas
Sou um falcão no penhasco
Sou orvalho sob a luz do sol
Sou a mais rara das ervas
Sou um javali enfurecido
Sou um salmão na nascente
Sou um lago na planície
Sou a excelência do verbo
Sou o cume da poesia
Sou a lança afiada que dá a morte
Sou o deus que ateia fogo na cabeça
Quem aplana a montanha pedregosa?
Quem adivinha as fases da lua?
Quem revela onde descansa o sol?
Quem conduz as estrelas como gado do oceano?
E para quem sorriem as estrelas?
Que tropa, que deus, afia as lâminas no morro da angústia?
Cantando, invocarei armas.
Cantando, invocarei ventos.
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— Traduzido a partir da versão em inglês de R.A. Stewart Macalister com consulta ao irlandês antigo

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