Do corpo e do conhecimento que ele guarda…

Na literatura irlandesa antiga, o termo “Echtra” ou “Echtrae” designa literalmente uma “aventura”, e mais especificamente uma aventura passada no Outro Mundo. A palavra partilha inclusive a mesma raiz que o latim “extra”. Ao ouvirmos uma “Echtra”, somos levados, tal como o protagonista, a uma viagem para além de tudo o que julgamos conhecer, num mundo onde perdemos o nosso “chão” conceptual.

Na aventura em que o rei Cormac mac Áirt embarcou para recuperar a sua família, que ele trocara por um ramo encantado de prata capaz de fazer adormecer uma multidão, somos levados a conhecer a Terra das Promessas. Um lugar onde não há escassez, nem doença, nem mentira, e onde parece situar-se a chamada Fonte do Conhecimento, de onde brotam cinco correntes ou riachos, com avelaneiras mágicas e salmões míticos.

Segundo Manannán mac Lir, essa Fonte assenta na nossa corporalidade. Não que o conhecimento ou a própria Sabedoria sejam coisas “ocultas” porque apenas certos privilegiados as conseguem alcançar; trata-se simplesmente de conhecimento intransmissível, pois o nosso corpo é o nosso maior mestre e a nossa derradeira fonte de Iniciação. É um tipo de saber que partilha a sua origem com o sabor: pessoal, imediato, insubstituível.

Experiencial.

Uma reflexão que achei apropriada para esta véspera do dia nacional da Ilha de Man, em plena lua cheia — um domínio que associo claramente a Manannán, deus do mar e da magia.

Subscreve a newsletter

Assina para receberes cartas electrónicas ocasionais com reflexões sazonais, diretamente aqui do Bosque.