Em tempos de Advento

Sei o que poderão estar a pensar. Julgavam que esta era uma página sobre druidismos mas depois encontram um post sobre um conceito cristão. Tenham calma e escutem-me:

A época natalícia também é, no mínimo, complicada para mim. A ideia de uma festa que celebra Cristo, a família e (sejamos honestes) o consumismo choca de frente com a minha condição de herege, queer, sem família próxima e socialista.

Porém não me é alheio o facto de se ter feito coincidir esta festividade com o solstício de Inverno. E a forma como sinto necessidade de comemorar o Inverno, por ironia da vida, tem bastante de mariano.

É um tempo de espera, de gestação, de expectativa. Um tempo fora do tempo, para deixar o ritmo de cada coisa fluir ao seu jeito. Um tempo de descanso, e não de idas intermináveis ao supermercado, horas extra no trabalho e OKR do 4.º trimestre a pender sobre a cabeça.

Um reajuste da nossa relação com o Tempo, domínio de Saturno, que os romanos celebrariam por esta altura.

Advento é uma outra forma de nos permitirmos hibernar (termo que deriva de “inverno”), fazer as pazes com a escuridão para deixar que a semente de quem Somos possa germinar em silêncio. Sem pressões calendarizadas.

Um dos costumes tradicionais deste mês consiste em acender uma vela por cada domingo antes do Natal. Dito de outra forma: contam-se os dias do Sol antes do regresso do Sol, que nos Mistérios é sinal da consciência maior e mais profunda em cada ser.

(Na perspectiva do druidismo revivalista, uma consciência que não faz acepção de dogmas nem de tradições.)

E assim sendo, para mim, como pagão, a escolha é simples: fazer companhia a todos os outros seres ao meu redor, dormentes à volta do fogo; juntes contemplamos as chamas, aconchegamo-nos sob o frio da noite e aguardamos, dia a dia, semana a semana, a chegada de dias mais quentes.

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