Quatro equívocos (e uma dica) sobre Ogham

O Ogam, ou Ogham (pronúncia: “ôh-âm”) em irlandês moderno, desperta a curiosidade de muitos praticantes, não só de druidismo, mas do paganismo em geral.

Inevitavelmente, há vários equívocos que acabaram por se disseminar na comunidade, instalando a confusão em torno do Ogham e da cultura irlandesa que o produziu.

#1. O Ogham é uma língua secreta?

Não. O Ogham não é uma língua, mas sim um sistema de escrita usado sobretudo em inscrições em pedra em irlandês arcaico — ou, nalgumas inscrições encontradas na Escócia, em língua picta).

Também não é de todo secreto, dado que existem manuscritos medievais que explicam detalhadamente o alfabeto e alguns dos seus usos, nomeadamente o In Lebor Ogaim (“O Tratado de Ogam”) e o Auraicept na n-Éces (“A Cartilha dos Eruditos”).

#2 O Ogham foi usado pelos druidas?

Não temos a certeza… mas eu diria ser pouco provável.

As inscrições com Ogham mais antigas de que dispomos parecem datar do século IV, o que as torna contemporâneas das primeiras comunidades cristãs na Grã-Bretanha e na Irlanda.

Além disso, o Ogham foi usado sobretudo em marcos territoriais ou túmulos, o que pensamos indicar uma certa influência romana.

#3. O Ogham é um alfabeto de árvores?

Não, ou pelo menos não só.

Ainda que se tenha convencionado chamar os caracteres de “fid” (singular “feda”), ou “árvores”, o facto é que com o tempo se desenvolveram 150 variantes de Ogham, para uso literário, como cifras ou como técnicas mnemónicas.

Apenas seis dos caracteres têm nomes que podemos identificar com certeza como nomes de árvores. Os manuscritos medievais associam uma glosa (“Bríatharogam”) a cada letra, e é a partir daí que derivam possíveis espécies vegetais — bem como cores, animais, objectos, etc. escritos com a mesma primeira letra.

#4. Existe um zodíaco do Ogam?

Não. A ideia foi fabricada por Robert Graves, no seu livro A Deusa Branca (1948).

Graves inspirou-se num autor do século XVII, chamado, Roderic O’Flaherty, que não só achava que o Ogham era um alfabeto de árvores mas também afirmou que este continha 13 consoantes (na realidade, são 15).

Graves associou de imediato estas 13 consoantes às 13 constelações e às 13 luas do ano, e criou um calendário em que cada mês lunar corresponde a uma letra do Ogham.

#5. O Ogham era usado na antiguidade como meio de divinação?

Não há evidência disso, mas nada nos impede de tentar desenvolver sistemas de divinação nos dias de hoje.

Eis algumas obras que podem ajudar a construir um conhecimento, não só académico, mas também espiritual, em torno do Ogham:

  • A Guide to Ogham, Damien McManus

  • Ogam: Weaving Word Wisdom, Erynn Rowan Laurie

  • Ogham: The Secret Language of the Druids, Robert Lee Ellison (e sim, o título é o que é, mas o conteúdo vale a pena)

Subscreve a newsletter

Assina para receberes cartas electrónicas ocasionais com reflexões sazonais, diretamente aqui do Bosque.