Reflexões sobre a Awen

Um símbolo de origens controversas, porém inescapável para quem navega o mundo do revivalismo druídico: três raios de luz e uma singela palavra galesa (e também córnica e até bretã), Awen.

Na cultura do País de Gales, “Awen” é a inspiração dos poetas e dos bardos, um sopro de origem divina — pois partilha a mesma etimologia que os nomes do vento ou da brisa. Tal como a “ruach” (ou “espírito”) hebraica, Awen tem género feminino no dicionário galês. Taliesin, o mítico bardo, diz que “canta a Awen” e que lhe conhece todas as dimensões — e com elas, o próprio fundamento da realidade.

Na transição entre os séculos XVIII e XIX, seria Iolo Morganwg a adicionar mais umas quantas camadas de sentido ao termo, graças à sua produção literária — que afirmou tratar-se de poesia e prosa antiquíssimas. As suas falsificações (ou inspirações!) convenceram gerações e ajudaram a animar todo um movimento de reavivamento da língua e da literatura de Gales.

Afinal o vento sopra onde quer, não raro de forma imprevisível.

Envolto num mundo cuja religião maioritária (e obrigatória) afirmava o pecado original, Iolo observou a paisagem galesa e imaginou uma cosmogonia diferente. Ao pronunciar-se a Awen, esta palavra divina, “o universo inteiro assomou à existência com o triunfo de um cântico de alegria” — escreveu Iolo.

Divergências teológicas à parte, acho difícil não meditar nestes raios de luz solar, inclinados durante os solstícios, verticais nos equinócios — raios daquela mesma luz que a tudo e todes irmana —, sem sentir, eu mesmo, um pouco de Inspiração.

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