Druidismos Urbanos: Sob a Calçada, a Praia

O Druidismo moderno nasceu em resposta à industrialização, ao êxodo rural e à crise de sentido que desde então nunca abandonou as sociedades ocidentais. Ainda hoje, à primeira vista, os símbolos, mitos e ritos associados ao movimento Druida evocam uma roda do ano que gira em torno do ciclo agrícola. Isso poderia fazer parecer que as espiritualidade telúricas nada têm a oferecer a quem vive num ambiente urbano. Mas não há lugar onde não esteja presente a Natureza. O nosso corpo, tal como o mundo ao nosso redor, é uma teia rizomática onde cada partícula está conectada a tudo o mais.

O Druidismo moderno, assim como outras tentativas de encontrar um sentido na condição humana, propõe pontos de conexão entre nós e outros seres, e oferece pistas para redescobrirmos o que há de natural e selvagem dentro e fora de nós, mesmo dentro das muralhas de concreto da cidade. O Druidismo pode assim tornar-se se uma prática de reconciliação com os nossos ritmos verdadeiros, com os espíritos do passado e do presente que se movem além de prazos arbitrários, iluminação artificial e planilhas intermináveis.

Como podemos repensar o Druidismo como uma prática para quem não tem acesso ao “privilégio verde”, uma prática acessível para todas as estações da vida, uma manifestação de ecologia profunda que vai além da jardinagem? Que respostas — ou inquietações — nos oferece a nossa prática em meio ao luto climático?

Nos espaços liminares da cidade, podemos até encontrar a presença de Manannán mac Lir e a possibilidade de mudança, deixando-nos metamorfosear na névoa e aprendendo a nos mover como a água contra as margens do rio. Mesmo no coração da cidade, pode ainda pulsar uma vida comunitária e solidária, uma nova cultura partilhada que anime o corpo pessoal e colectivo.

Esta palestra resultou de um convite para participar na programação online do XIV Encontro Brasileiro de Druidismo e Reconstrucionismo Celta, e teve lugar no dia 3 de Junho de 2023.